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República do Irã e a compreensão Queer

Quando se trata da República Islâmica do Irã, a primeira coisa que se tem em mente é a frente unida contra os Estados Unidos e tudo aquilo que representa. E, não seria diferente se, neste antiamericanismo institucionalizado, se encontrasse, também, a agenda LGBTQIA+. Do outro lado, quando se ouve sobre o país persa, tudo o que se ouve do Ocidente é: árabe, terrorista, imigrante ilegal e etc. O que ambas as visões nos trazem sobre o cenário internacional?

Irã antes da revolução de 1979

O Irã, pouco antes da chamada revolução iraniana de 1979, embora estivesse sob um governo monárquico autocrata, mantinha boas relações com seus vizinhos e sobretudo com as potências Europeias e Estados Unidos. Em razão da agenda ocidentalista do Xá Mohammad Pahlevi para seu país, este era visto como um exemplo de progresso frente à países ‘atrasados’ no Oriente Médio.

Com a “revolução branca”, iniciada pelo Xá afim de modernizar o Irã e o bom fator econômico do qual o país se encontrava, Pahlevi via ali a oportunidade de industrializar sua nação e alcançar o posto de Nação ocidental e progressista do Médio Oriente. E foi ali também que, timidamente, a agenda LGBT começou a conquistar espaço.

Segundo a professora, socióloga e especialista em Irã da Universidade Livre de Bruxelas Firouzeh Nahavandi, “a política implantada pelo poder, favorável ao direito das mulheres, à penetração da cultura ocidental e à vontade de limitar a influência do Islã, com base na herança da civilização persa pré-islâmica, desagradaram os religiosos, muito influentes no mundo rural.”

A agenda pró-ocidente junto de uma queda no preço dos barris de petróleo, principal fonte de renda do país, trouxeram uma drástica crise econômica ao país que já “sofria por ter uma economia frágil”, aponta Nahavandi (2020).

Outro fator de forte insatisfação para com o Xá foi a tolerância a casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Tendo ápice o casamento televisionado entre membros do tribunal iraniano. O fator de insatisfação econômica versus religiosa tornou a posição do regime amplamente insustentável.

Atualmente, após 40 anos da revolução iraniana, sob o regime do teocrata Khomeini, o Irã vive sob governo teocrático de caráter extremamente antiamericano e antiocidental. O que incluí LGBT’s, seja pela proibição com base na lei sharia, ou ainda por homossexuais serem vistos como algo ocidental a ser combatido. O autor Monin Rahman (2015) explica a razão pela qual grupos extremistas e demais autoridades, não apenas palestinas, mas muçulmanas como um todo, persistem na repressão a homossexuais. Seu argumento se baseia na ideia de que, essa relação de embate entre políticas repressivas do oriente, representam algo enraizado na estrutura de poder do sistema. Ora, uma vez que a comunidade LGBTQ está estruturalmente atrelada a ideia de ocidentalismo e progresso, sobretudo por países ocidentais que insistem em pautar a si mesmos como tal, e que, desta forma, encontram-se dentro do padrão neoliberal. A relação binária de ocidente superior versus oriente inferior se intensifica, criando barreiras e dificultando eventuais avanços em direitos humanos.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Irã: as razões de uma revolução que já dura 40 anos, RFI, 2019. Disponível em: <https://g1.globo.com/mundo/noticia/2019/02/11/ira-as-razoes-de-uma-revolucao-que-ja-dura-40-anos.ghtml>

NAHAVANDI, Firouzeh. L'Iran dans le monde, 2020.

RAHMAN, Momin, The Politics of LGBT Muslim Identities. 2015. Disponível em: <https://www.e-ir.info/2015/04/02/the-politics-of-lgbt-muslim-identities/>


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